quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Carta ao Pai-Natal

Querido Pai Natal,



Chamo-me André e tenho 6 anos.

Neste Natal eu queria um presente muito especial. Eu queria que em todo o
mundo houvesse Paz e Amor, mas sei bem que isso é impossível de
realizar...
...pelo menos aqui no meu prédio.

Sempre que a vizinha do 5.º Dto. faz amor, não há paz na vizinhança.
Principalmente quando o marido sai em viagem de negócios.
Nesses dias, se calhar a televisão dela fica avariada, porque está sempre
a passar aquele
anúncio do shampoo Herbal Essences. "Ò ... sim, sim ... siiiim".

Bem!
Como a Paz e o Amor estão riscados da lista, vou ter que optar pelos bens
materiais, coisa que eu não queria nada ...

Para começar, eu queria que este ano a minha prenda de Natal fosse um
brinquedo muito divertido que vi na televisão.
Não, não é nenhuma daquelas mariquices dos Action Man, Homem Aranha ou
tartarugas Ninja.
O que eu queria mesmo era uma coisa que vi ontem no Telejornal!

Pai Natal, eu queria muito que me trouxesses um brinquedo que se chama RPG
7, que é um lança-granadas igualzinho aqueles que os terroristas usam para
rebentar com os americanos no Iraque.

Mas preciso muito que me entregues o brinquedo já este fim-de-semana para
eu fazer uma surpresa aos meus coleguinhas lá da escola.
Eles vão estar todos numa festa de Natal, em casa do Henrique, que é filho de
um grande empresário têxtil, que não paga salários há 3 meses, contrata
homens para dar porrada nos sindicalistas e tem uma amante no prédio onde
mora a minha avó.

Todos os coleguinhas da minha sala foram convidados para a festa menos eu,
porque o Henrique diz que o meu pai é teso e as minhas roupas parece que
foram compradas na Feira de Carcavelos, em segunda mão, aos ciganos.

Eu sei que desfazer os coleguinhas da 1.ª classe com tiros de bazuca não é
uma coisa muito bonita. Mas no ano passado fartei-me de fazer boas acções
e a prenda que me trouxeste foi a porcaria de um carro telecomandado
comprado aos marroquinos, que se avariou logo no primeiro dia.

Bem, pelo menos sempre deu para aproveitar as pilhas para o vibrador da
minha mãe!

E por falar na minha mãe, neste Natal queria que ela tivesse uma prenda
muito bonita ... pelo que percebi, ela precisa muito de uma padaria mesmo
aqui à porta do prédio, porque há mais de um mês que não vê o padeiro ...
pelo menos foi isso que ela contou no outro dia, quando estava ao
telemóvel com um amiguinho que se chama Roberto.

Realmente, a minha mãe deve ter muita fome, porque depois começou a dizer
ao amiguinho que lhe vai morder o cacete e, a seguir, vai pôs-lo a aquecer
na fornalha dela até ele ficar grande ... o que acho esquisito, porque eu
aprendi na escola que, sem fermento o cacete não cresce!

Quanto ao meu pai, a prenda dele é uma daquelas máquinas que vendem tabaco
nos cafés ... é para ter cá em casa porque sempre que o meu pai sai à
noite para comprar tabaco só volta no dia seguinte.

Quando chega a casa diz que correu os cafés todos da zona e só conseguiu
encontrar a marca de cigarros que ele fuma em Bragança, na boite A Bruxa.

É engraçado! A minha mãe diz que ele vai a Bragança à procura da
brasileira, mas que eu saiba isso não é uma marca de cigarros ... é uma
marca de café!
Depois a minha mãe começa a falar em marcas de bâton na camisa e aí é que
eu fico sem perceber nada!

Olha, mas se não arranjares a máquina, tenta ao menos passar pelo Ribatejo
e trazer um par de cornos.
Pelo menos a minha mãe está sempre a dizer que era disso que ele
precisava.

Para o meu irmão queria uma coisa mais simples. Basta trazeres umas roupas
modernas, dessas que os adolescentes usam. Pelo que percebi, ele
não deve gostar nada das roupas que os meus pais lhe compram, porque todas
as noites, quando sai com os amigos, leva os vestidos da minha mãe.

Diz o meu tio Zé que até dá pena ver o meu mano ali na zona do Parque
Eduardo VII, com as pernas ao frio e com aquelas botas altas tão
desconfortáveis. Deve-lhe doer muito os pés porque leva a noite inteira a
pedir boleia aos carros que passam ...

E pronto, acho que já está tudo! Agora vê lá, não te esqueças de nada, se
não sou bem capaz de fazer um telefonema anónimo a uma certa jornalista do
Expresso a contar um episódio engraçado que me aconteceu no ano passado,
quando te fui visitar ali a um Shopping Momental, no Saldanha.

Ela vai gostar muito de saber que, quando eu estava no teu colo,
aproveitaste para me apalpar o rabo e convidares-me para brincar aos
trenós e aos comboinhos na tua casa, em Elvas!

É claro que ambos sabemos que isso não foi verdade! O que aconteceu
realmente foi que te apanhei a fumar droga e a veres revistas
pornográficas na casa de banho, mas sabes como é a memória das
crianças ... vemos muitos desenhos animados e, por isso, estamos sempre a
confundir as coisas. E convenhamos que o nome "Bibi da Lapónia" te assenta
como uma luva.

Por isso, ou me trazes as prendas todas que te pedi ou é bom que comeces a
procurar um bom advogado. E não te esqueças de comprar muitas embalagens
de gel de banho. É que ali na prisão de Custóias dizem que é perigoso
tomar duche com sabonete ... quando ele cai ao chão se te baixares para o
apanhar corres o risco de ... ui ...

Pelo menos é garantido que vais ter um Bom Natal e um Feliz Ânus Novo!

Beijinhos,
Andrézinho


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